Por Welter Benicio
Imagem: https://www.uhs.umich.edu/files/uhs/field/image/Mindfulness.jpg

“O que existe a nossa volta é nada comparado ao que existe dentro de nós.” OLIVER WENDELL HOLMES (Tradução Livre)

Uma nova classe de super-humanos parece ter surgido entre nós! Incansáveis, inteligentes, hábeis e bem sucedidos, espécimen descrito no tweet que circulou no Fórum Econômico Mundial de Davos que descreve as “14 Coisas que Pessoas Bem Sucedidas Fazem Antes do Café da Manhã”. Isso mesmo – antes do café da manhã! Como exemplo de bem sucedidos, são citados CEO’s de companhias globais de tecnologia, que acordam entre 3 e 5 da manhã e quando chegam ao trabalho, por volta das 7:00, já arrumaram a própria cama (boa!), se exercitaram, assistiram a programas de TV, tomaram café da manhã balanceado com familiares, meditaram, rezaram, leram jornais, revistas, etc, etc e etc! Como encerram o dia por volta das 23 horas, somos levados a crer que além de incansáveis, possuem um cérebro multiplexado, devendo ser capazes de executar várias tarefas ao mesmo tempo. O que mais me chamou a atenção, no entanto, é que a maioria usa da meditação em busca da atenção plena (“mindfulness”) para aumentar a capacidade de concentração no presente, numa coisa só, vivenciando-a ao máximo, o que parece contradizer a noção da multiplexação cerebral. Será?

Todos sabem que manter a atenção plena no presente, num evento só, no qual estamos envolvidos, se tornou tarefa gigantesca nos dias de hoje diante da quantidade de “inputs”, informação e estímulos que chegam a qualquer um pelas diversas mídias . No caso de um executivo sênior, a tarefa pode ser hercúlea, pois além dos “inputs”, a auto-cobrança e o volume de tarefas por realizar, que muitas vezes gera uma sensação de esgarçamento interno, sabotam o esforço da atenção total, plena e dedicada. Para eles, como o trabalho requer foco máximo e é quase impossível mantê-lo durante todo o dia, a vida em família pode acabar sendo privada do privilégio que é a atenção não dividida. Tudo isto pode resultar em culpa, mais estresse, desgaste físico e psíquico e aí, acordar às 3 ou 4 da manhã só mesmo por preocupação. Diante de tudo isto, achei que valia a pena conhecer um pouco mais sobre a prática do “mindfulness”.

Em busca da atenção plena (mindfulness)

A meditação, praticada no oriente há milênios, não é nenhuma novidade no ocidente, mas a sua legitimação pelo mundo corporativo e sua adoção pelos executivos do “C level” o são. E como nada é por acaso, deve haver uma boa razão para esta mudança que, com certeza, está relacionada a melhorias nos indicadores de performance associados aos negócios nos quais estão envolvidos estes executivos. Seja por este motivo mais mundano ou pela busca de paz interior e autoconhecimento, o fato é que a prática diária do “mindfulness” promove uma melhora na capacidade de concentração, além de ser uma relaxante ferramenta de acesso às habilidades internas adormecidas, esquecidas ou negligenciadas, através de um exercício mental que é desafiador no começo, uma vez que a mente teima em passear pelos afazeres e preocupações, mas que, com paciência, perseverança e honestidade, leva a uma maior capacidade de concentração no que se desenrola no nosso entorno. Por mais paradoxal que seja, numa época em que muitos querem fazer várias tarefas ao mesmo tempo, com a escusa de que é preciso cumprir com as obrigações diárias e em que muitos querem ser informados sobre tudo usando vários canais simultâneos, com receio de se tornarem obsoletos ou desinformados, adota-se exatamente uma prática que exercita a capacidade dos indivíduos (seres não divisíveis!) de dedicação integral, generosa e verdadeira aos eventos do dia, de maneira sequencial e disciplinada com o objetivo de…fazer mais, com menos.

Os céticos, ou mais afobados, podem argumentar que incluir num dia já cheio um momento para não se “fazer nada”, para apenas meditar, não parece ser lá muito racional. Mas a questão é simples: se parar por 30 minutos resultar numa melhora de 10% na performance de todas as tarefas do dia, sem mencionar ganhos de bem estar, então a medida é acertada. É importante não esquecer, no entanto, que além da atenção não dividida nos afazeres, uma melhor performance requererá um bom planejamento, além de objetividade e disciplina na execução das tarefas. A boa notícia é que uma maior capacidade de concentração melhora tanto a execução das tarefas como a capacidade de planejar uma agenda diária ou semanal. Resumindo: através do “mindfulness” criam-se as condições para uma performance melhorada no trabalho, com a possibilidade de uma vida mais saudável, mais rica, com maior autoconhecimento, além de poder representar, para aqueles que possuem companheiros e filhos, menos cobrança por atenção.

Obs: Para conhecer mais sobre o tema “mindfulness”, recomendo os livros do Dr. Jon Kabat-Zinn