Por Welter Benicio
Imagem: https://en.wikipedia.org/wiki/Red_pill_and_blue_pill

Este artigo é uma resposta tardia a um questionamento de um querido amigo, que aos cinquenta e cinco anos de idade se viu desempregado, depois de uma carreira cheia de desafios, destaque, alguma pompa e circunstância, muita adrenalina, contatos com pessoas interessantes e, obviamente, conforto material. Na última vez que conversamos, ele me perguntou como se dirigisse a um oráculo, talvez porque eu esteja há três anos em voo solo depois de uma longa vida corporativa, – “Esse é o fim da minha carreira?”. Entre goles de cerveja, procurei não dar nenhuma resposta elaborada, dado o seu estado de espírito e o fato de que a pergunta tinha um quê de retórica. No entanto, após uma pausa para que suas emoções cedam algum espaço para a razão, escrevo-lhe minha melhor resposta: depende!

Depende do que você entende por carreira. Se carreira para você quer dizer aquela tradicional progressão linear crescente em responsabilidade, autoridade, importância e renda, dentro de uma área de atuação ou indústria específica, então sim, este pode ser o fim com todo o luto que ele trouxer! Mesmo que não seja o fim, é bom que esteja preparado para um longo período de procura. Caso carreira signifique uma sequência de atividades profissionais não necessariamente relacionadas no escopo, função, posição, área de conhecimento, remuneração e, claro, importância (no sentido mais mundano), onde você possa contribuir com toda sua experiência profissional, de vida, suas habilidades e conhecimento, seja bem-vindo a uma fase muito rica, divertida e excitante de sua vida profissional. Nesse caso, há chance de que a pausa profissional de hoje seja mais curta, mas é bom que esteja preparado para questionar conceitos, valores, para quebrar paradigmas solidificados há tempos e para adquirir novos conhecimentos fora de sua zona de conforto. A despeito do que carreira seja para você , sempre se pode optar por qualquer um dos caminhos: continuar apostando na linearidade ou encarar a aleatoriedade do universo! Não defendo que haja o certo ou errado, mas desejo que você se liberte das amarras dos conceitos inculcados e entenda que a sua crença no que uma carreira seja pode limitá-lo. Algumas medidas podem lhe ajudar na escolha a ser adotada:

  1. Volte à escola e aprenda algo novo com gente nova – o contato com assuntos estranhos ao seu mundo e com colegas mais novos é revigorante e vai mostrar a você que aprender algo novo tendo conhecimento e experiência é muito melhor e mais excitante. No meu caso, optei por economia e tive que fazer uma imersão no cálculo, estatística avançada, linguagem de máquina (machine learning), macro, micro e econometria. Só posso lhe dizer que fiquei maravilhado em perceber que meu cérebro continua pronto para a ação!
  2. Procure usar sua experiência em indústrias diferentes da sua – você vai perceber que você tem muito a contribuir, que existe um número gigantesco de empresas e empreendedores ávidos por conhecimento, sólida experiência e liderança, os quais você possui!
  3. Aproveite o tempo de sobra para exercitar áreas do cérebro que permaneceram relativamente inativas por longo tempo.Busque a música, a literatura, as artes e humanidades em geral!
  4. Procure conhecer e praticar o “mindfulness” – a meditação pela atenção plena, que já foi objeto de outro artigo meu, vai lhe ajudar, e muito, a focar no presente e deixar quieto o passado “de glórias” !
  5. Procure a diversidade – conheça pessoas diferentes do habitual e, na medida do possível, procure conhecer suas experiências!

Bom, acho que você já possui elementos para perceber que você é quem vai definir se sua “carreira” chegou ao fim. Assim como na trilogia Matrix, você pode optar pela pílula azul e sua vida profissional segue tal qual sempre imaginou, dentro da zona de conforto, mas correndo o risco de que esteja no fim, ou você pode optar pela pílula vermelha e um mundo novo, não sem riscos é claro, mas muito rico e mais longevo, se mostrará para você. Com você, meu amigo, a palavra final!