Por Welter Benicio –
Estava refletindo sobre a passagem do lendário Jack Welch quando me lembrei que ganhei o livro “Jack – Definitivo” há mais de 10 anos e nunca o li por completo. Já outro livro, “O X da Questão”, sobre parte da trajetória do empresário Eike Batista, li de cabo a rabo em um final de semana quando o império X já ruíra e seu ex-CEO estava próximo de ser encarcerado. O que há de errado nessa escolha?
Na verdade, nada! Jack Welch foi um dos maiores e melhores executivos do seu tempo. O fato de não ter lido sua biografia por completo nada tem a ver com falta de admiração pelo executivo. Já ter lido “O X…” totalmente tem a ver com o meu respeito pelo insucesso e suas possíveis lições.
Ganhei o livro sobre o Eike quando negociava uma pendência financeira do seu grupo com a empresa a qual representava. Saí de uma longa reunião sem nenhuma promessa de pagamento mas com o livro debaixo do braço (rs). A leitura, confesso, foi totalmente imparcial – queria entender como se constituíra o império que envolvia alguns dos projetos mais interessantes que conheci e que logo ruiu. Queria aprender, entender as falhas de uma construção que podem levar à derrocada.
A valorização do sucesso e a vergonha do insucesso nos impregnam a quase todos. É parte da nossa cultura e, talvez, decorrência do viés cognitivo de aversão à perda. Este preconceito é um erro, mas não existe nada mais difícil do que encarar um insucesso pessoal, aprender com ele, usá-lo como alavanca e falar dele naturalmente. As redes sociais não ajudam, pois ali ninguém está infeliz, teve insucesso ou perda (será?).
Executivos são os mais resistentes a falar sobre seus fracassos e se esforçam, e muito, para falar sobre seus pontos fracos. A verdade é que abraçar o insucesso pode ser libertador e nos permitir um salto no autoconhecimento que sucesso nenhum jamais permitirá. Pode confirmar ou desmistificar nossas habilidades e deficiências, pode nos livrar da vaidade exacerbada, da arrogância, do medo da opinião alheia e de errar, pode nos transformar de uma maneira profunda e nos tornar muito mais preparados para um novo ciclo de realizações bem-sucedidas.
Por insucesso me refiro a um revés marcante que altera profundamente uma vida, como um empreendimento malsucedido que consome anos de trabalho árduo e todo patrimônio acumulado e não a turbulências corriqueiras que marcam uma trajetória ascendente. E digo que o insucesso “pode” propiciar isto ou aquilo porque a libertação e o aumento da capacidade de realização vão depender do grau de aceitação, absorção e aprendizado individuais. Ao final do ciclo, com muita coragem, é possível enxergar o que foi contribuição nossa, o que nunca esteve sob nossa zona de influência e até fazer um brinde ao in-sucesso – Viva!!