Por Welter Benicio
Imagem: Getty Images

Caros colegas, é com prazer que compartilho com vocês pesquisa empírica que acabamos de publicar (link no fim do texto), que aborda o impacto das práticas de responsabilidade social (CSR) nas finanças de 160 empresas com ações em bolsas da América Latina.

Neste trabalho, analisamos como a combinação de práticas simultâneas de CSR voltadas aos diferentes stakeholders afetam a performance financeira destas organizações. Nossa análise parte do pressuposto de que ao desenvolver estratégias de CSR é preciso que os administradores levem em conta os stakeholders cujas demandas o programa procura atender, pois nem sempre os interesses de grupos de stakeholders estão alinhados com os interesses da empresa, e este desalinhamento pode levar o investimento em CSR a afetar negativamente os resultados. Como é sabido, mesmo nas grandes corporações os recursos são sempre limitados, sendo necessário que se estabeleçam prioridades e limites para as verbas de CSR e que estes programas sejam bem desenhados e corretamente implementados para que o impacto nas finanças e no valor de mercado das empresas seja positivo.

A já longa história de pesquisa em torno do assunto indica que ainda não se pode ser totalmente assertivo com relação ao impacto positivo das práticas de CSR na lucratividade das empresas, pois há diferentes estudos empíricos que apresentam resultados variados, ou seja, nos quais a relação entre CSR e performance financeira é positiva, neutra e até mesmo negativa. Esta falta de assertividade gera um questionamento e uma preocupação. A pergunta ressonante é – “como pode ser que a mesma sociedade que necessita e quer o engajamento das organizações com grande poder de transformação na remediação de suas externalidades escondidas (hidden costs) ou visíveis, e em causas que vão além de sua missão oficial não as recompense, no fim do dia?”. A preocupação, por sua vez, decorre da falta, em alguns casos, da correta remuneração do acionista pelo investimento em CSR, pois por mais que os administradores devam levar em consideração e atender as demandas de todas as partes afetadas pelas atividades de uma empresa, não gerar valor para o acionista torna qualquer negócio insustentável no longo prazo. Como resolver este quebra-cabeça?

Como é sabido, a humanidade enfrenta grandes desafios sociais, econômicos e ambientais neste milênio. A Singularity University acredita que a tecnologia possa nos redimir. De fato, muitos desafios terão um bom desfecho com o auxílio dela. No entanto, num planeta que vai contar, em breve, na melhor das hipóteses e considerando só o homo sapiens, com 10 bilhões de almas, será preciso um esforço gigantesco de incontáveis agentes para que as gerações do futuro não muito distante tenham condições de vida dignas. Fica claro que este esforço não pode prescindir da contribuição daqueles que possuem mais recursos e capacidade transformadora: as organizações com fins lucrativos de todos os tipos (pequenas, médias, fechadas, de capital aberto, etc.) e todas regiões do planeta.

É justamente para criar condições que incentivem o engajamento “exponencial” destes agentes transformadores nas práticas de responsabilidade social que desenvolvemos a pesquisa ora compartilhada. Nela, buscamos entender melhor como tais práticas afetam as finanças e o valor de mercado dos praticantes para que se construam estratégias que tornem tudo sustentável a longo prazo, ou seja, “para que a conta feche”. Nela, advogamos que a CSR é um programa multidimensional, que deve visar, de maneira inteligente, à criação de uma competitividade através da construção de ativos intangíveis e que em alguns casos, mas não em todos, a combinação de práticas voltadas para diferentes grupos de stakeholders é sinergética e gera valor. Como em toda pesquisa empírica que se preze, tivemos que fazer análises exaustivas de dados. No nosso caso, avaliamos os dados financeiros, de mercado e de responsabilidade social coletados pela Thomson Reuters nos últimos 10 anos e aplicamos método econométrico inovador.

Para evitar o “spoiler”, deixaremos que o leitor interessado conheça os resultados obtidos no próprio material divulgado. No mais, estaremos sempre à disposição para o esclarecimento de dúvidas e troca de ideias.

Boa leitura!

Link: http://hdl.handle.net/10438/27167