Por Welter Benicio
Imagem: Welter Benicio

A biomimética (biomimicry em inglês) é a ciência que estuda a natureza, seus princípios criativos, modelos e processos, visando usá-la como referência para resolver os problemas da humanidade. Através da biomimética pretende-se chegar a processos eficientes (e produtos otimizados), pela eliminação de desperdícios e da reciclagem total, tornando as atividades humanas sustentáveis. O estudo de como a natureza forma as estruturas ósseas, por exemplo, pode resultar no design de estruturas mecânicas que usam menos materiais, são mais leves e mais resistentes. Já o estudo de como a célula processa informações pode levar ao desenvolvimento de processadores menores, que consomem menos energia, geram menos calor e possuem uma maior capacidade de processamento de dados por volume e massa. O que dizer então do congelamento de órgãos humanos a serem transplantados, baseado na capacidade de algumas rãs de sobreviverem ao congelamento no inverno? Estes são apenas alguns exemplos e benefícios advindos da biomimética aplicados aos materiais e suas transformações. Se a natureza é referência para o avanço na manipulação de materiais de maneira sustentável pelo homem, ela também serve de modelo para os processos de coordenação e controle das atividades humanas envolvidas na geração de bens e serviços: a gestão de pessoas e processos.

Como evitar a extinção precoce

A natureza usa de alguns princípios, estratégias e leis nos seus processos que podem servir de inspiração e modelo para os gestores e empresas.

  • Ela usa apenas a energia de que necessita. Nem mais, nem menos – Já pensaram em quanta energia é desperdiçada nas empresas com reuniões inúteis, excesso de e-mails, viagens e deslocamentos desnecessários, processos complicados, burocracia excessiva, relatórios e apresentações repetitivas?
  • Ela adequa a forma à função – A estrutura de uma organização nunca é a causa única para suas mazelas, mas qual é o prognóstico para uma organização de serviços, por exemplo, que precisa ser responsiva e adquirir conhecimento para resolver problemas no campo com velocidade, mas que possui muitos níveis, é cheia de silos e feudos e não pratica a polinização cruzada de conhecimento?
  • Ela recicla tudo – O que dizer de procedimentos, normas, padrões e regras que nunca são reciclados, como se o que foi estabelecido ontem continuará valendo daqui a 100 anos?
  • Ela recompensa a cooperação – Não é preciso discorrer muito sobre este ponto. É preciso pensar no entanto que a cooperação não surgirá de pessoas que não a possuem como um valor intrínseco.
  • Ela depende da diversidade – Quanto mais diverso o ecossistema, mais sustentável, no sentido de perpetuação, ele será. O que dizer de organizações que não cuidam deste aspecto e que possuem “populações” uniformes na maneira de pensar, agir, no expertise, nos gêneros, raças e credos?
  • Ela demanda expertise local – Quem já viveu sabe do que estou falando: que tal implementar planos, estratégias e programas pensados e detalhados a milhares de quilômetros do ponto de execução, sem levar em consideração aspectos locais cruciais?
  • A limitação dos excessos é endógena aos sistemas – Venhamos e convenhamos, regras são feitas por quem pode e devem ser seguidas, mesmo quando estabelecidas por alguém externo ao ponto de implementação. No entanto, quais as chances de sucesso de uma organização onde seus grupos (unidades, setores, subsidiárias e afiliadas, etc) necessitam de monitoração e controles externos constantes, comparada àquela na qual estes grupos controlam e eliminam os próprios excessos?
  • Ela otimiza tudo e extrai o que pode, respeitando os limites – Mesmo quando os limites estão estabelecidos na lei, algumas organizações avançam o sinal e ao invés de otimizarem, maximizam seus ganhos. Todos estamos acompanhando no país as consequências deste comportamento por algumas empresas, que arriscaram tudo e correm o risco de extinção.

A natureza vem evoluindo por cerca de 4 bilhões de anos e todos os seres vivos atuais são vencedores, de uma forma ou de outra. Comparada a sua história, a nossa, como espécie, é uma fração de segundo num dia de 24 horas. A de nossas organizações então, é uma fração de fração. Assim, nada mais sábio do que prestarmos atenção ao que se desenrola no nosso entorno e abandonarmos a impressão de que nossas criações são supremas e autossuficientes. A perpetuação na natureza só é privilégio do mais apto, que melhor se adapta às alterações do meio, e o mesmo se dá com nossas organizações. Portanto, se elas desejam existir por décadas a frente, o que implica crescimento, competitividade, sustentabilidade, no sentido mais comum, responsabilidade social e lucratividade e quando sabemos que a maioria desaparecerá, é melhor que seus gestores passem a observar os veteranos dessa luta e suas estratégias.